DR com Demori: Caio Blat reflete sobre papel da arte na sociedade

11/03/2025

Entretenimento

Ator está em cartaz com adaptação de Os Irmãos Karamázov

Fonte: © Paulo Pinto/Agência Brasil

O programa DR com Demori, da TV Brasil, recebe esta semana o ator e diretor de cinema, TV e teatro Caio Blat. O artista está em cartaz com espetáculo que faz adaptação de Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoievski, e conversa com Leandro Demori sobre as mudanças da sociedade contemporânea e a influência da arte na formação cidadã. 


Caio Blat defende a cultura como protagonista entre os temas urgentes da atualidade para construção da identidade e formação de pensamento crítico; lembrando a importância econômica do trabalho artístico e de leis de fomento.


As pessoas falam tanta besteira da Lei Rouanet. Primeiro é um instrumento neoliberal, são empresas que escolhem quem vão patrocinar. Em segundo lugar, o cachê que vai para a montagem de uma peça é diluído, capilarizado, são centenas de pessoas que trabalham em uma produção, que vão ter emprego. A cultura é um dos setores mais pujantes da economia, explica.


Ator desde a infância, Caio Blat vem lotando teatros com o espetáculo Os Irmãos Karamázov, e credita plateias cheias a um efeito pós-pandemia: uma necessidade de contato mais próximo entre as pessoas.


Nesses dois anos que a gente passou se reorganizando, repensando a sociedade, os teatros todos fechados... de alguma maneira, a presença humana, a performance, a presença do ator ganhou uma importância, uma urgência muito grande, diz. 


Nesse contexto, Blat critica também os ataques feitos à classe artística nos últimos anos.


O artista sacode a realidade, questiona, faz as pessoas pensarem... Se você quer um governo obscurantista, que vive de fake news... o artista é muito perigoso. O artista e o professor, alerta.


Mesmo com a perceptível importância dos atores, Blat denuncia que há uma desvalorização da profissão, com a falta de legislação específica para garantir direitos da categoria.


Os atores não são considerados autores pela lei. (...) A nossa imagem, voz, interpretação estão presas ali e a gente tem um direito que é chamado conexo. Existe no México, Argentina, Espanha, em Portugal e não existe no Brasil. Eu fui até o Congresso Nacional, quando estava se discutindo a lei da mídia, a lei de regulamentação da internet, e os deputados ficaram chocados de saber que as nossas novelas e séries e filmes podem ser vendidos para as plataformas e reprisados ad infinitum sem a gente ter direito a nada. Tem atores desempregados vendo suas novelas passando na TV a cabo, passando no streaming, lamenta.


Nos palcos

O espetáculo Os Irmãos Karamázov, em cartaz até o final de março de 2025 no Sesc São Paulo, se passa na Rússia pré-revolucionária e é uma adaptação do livro homônimo de Fiódor Dostoiévski, com direção de Marina Vianna e Caio Blat.


O processo de adaptação do texto para o teatro envolveu um longo estudo de Caio, ao lado do ator e professor de teatro Manuel Candeias. 


Blat explica que a escolha se deu por representar bem a obra do consagrado escritor russo:


É como se toda a obra de Dostoiévski desembocasse nesse livro. Os outros romances são mais psicológicos, acontecem mais dentro da cabeça. (...) Os Irmãos Karamázov’ foi publicado num jornal, em episódios, é uma novela, tem esse clima de folhetim, é algo muito, extremamente popular. 


A montagem é inédita no Brasil. No enredo, o ator e diretor destaca as reflexões possíveis a partir da história de cada personagem.


Se acreditava que toda a ética, toda a moral derivava do medo do inferno, do medo de não ir para o céu. Então a religião, o medo do que teria no pós-vida, obriga você a querer ser bom nessa vida. Mas eu acho que o homem já abandonou isso, a religião já perdeu essa centralidade na vida humana, (...) e Dostoiévski aponta exatamente essa virada, onde acaba o domínio da igreja, defende.


Ele traça ainda um paralelo com as mudanças da sociedade durante o século XX.


 Nietzsche veio repercutir essa frase também, poucos anos depois, dizendo que Deus está morto, Deus não tem mais aquela figura central na vida do ser humano moderno. E aí a gente começa a extrair a nossa ética e a nossa bondade de outros valores, que não são necessariamente o medo do inferno.


O programa DR com Demori vai ao ar toda terça-feira, às 23h, na TV Brasil, app TV Brasil Play e no Youtube.


Também é transmitido pelas rádios Nacional FM e MEC.

Fonte(s): Por Agência Brasil